31 de julho de 2009

A Moça Tecelã.



Nesse quarta-feira fui vítima de uma imensa felicidade como se tivesse voltado aos meus 7 anos de idade. Fui ao teatro curtir - com toda a vibe boa que o teatro tem - a peça "A Moça Tecelã", adaptado da obra de Marina Colasanti, que estava se apresentando no teatro Elis Regina, na Usina. Não sabia do que se tratava a peça, só fui porque meu pai havia me convidado e acabei me surpreendendo e tendo uma noite encantadora.

O grupo que está exibindo a peça, é um grupo que assisto desde muito pequena, A Caixa do Elefante Teatro de Bonecos. Eles tem espetáculos muito bons, populares aqui em porto alegre (ver "Histórias da Corrocinha" e "O Cavaleiro da Mão-de-Fogo") e é a primeira vez que eles desenvolvem um espetáculo para o público adulto. E se eu disesse que foi bom seria mentira. Foi maravilhoso, um espetáculo profundo e acima de tudo sensível. Era como se os sorrisos apaixonados que ela dava fossem os nossos. As pessoas se enchergavam nela. Ou será que eu me encherguei? Acho que todos carregam um pouco de solidão e encanto dentro de si. Luzes e trevas, dúvidas e certezas, acertos e erros. Faz parte de existir.

Sem nenhum diálogo, com músicas instrumentais, sons de vento e passarinhos, jogo de sombras em cima de tecido e um dos bonecos que era um dos protagonistas, a peça encantava. Te levava pra viajar junto com a moça que tecia tudo a sua volta, e assim como ela fazia, também desfazia. Ela me deu outra dimensão sobre as mesmas coisas e é surpreendente quando a gente se dá conta de que a maioria das coisas a nossa volta, somos nós que tecemos, construimos. E de acordo (originalmente) somente com o nosso pensamento. Ela tece a própria solidão. Ela desfaz a própria solidão. Ela passa depois de uma experiência a entender a solidão. Depois de certos momentos da vida, nós - seres humanos - também passamos a compreender que a solidão não é algo que nós precisamos fugir como o diabo foge da cruz. Aceitá-la como uma visitante que ajuda e aconselha nos faz bem. A única coisa que a torna fria e amarga é o repúdio. É preciso compreendê-la, e assim, aprender a aproveitá-la. A peça mostra algo disso também, temos que saber entedê-la, compreendê-la. Sei que o espetáculo foi algo singular, mesmo achando que é comum as coisas a nossa volta sugerirem pensamentos e reflexões, é singular ir a um lugar que te faz sentir. Que te inspira a sentir tudo ao redor. Como se nós também fossemos capazes de tecer, e a um simples toque desfazer.

Logo no início já vem com um jeito pra tocar, com as parcas cantarolando uma música infantil ligeiramente conhecida "se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar..". Um espetáculo cheio de magia, que te faz querer dançar junto aos bonecos e deixar o som do vento te levar também. "com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, para o meu, para o meu amor passar.."

Além da jogada magnífica de luz e sombras, não é só uma representação ótima ou um lindo ensino sobre o poder que todos nós temos por dentro, É contar um pouco através do teatro sobre o que habita (mesmo que fundo) em nós, solidão, luz, sombras, sorrisos, amor, moradias eternas e danças que (ainda) nos envolvem como crianças.

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