31 de julho de 2009

A Moça Tecelã.



Nesse quarta-feira fui vítima de uma imensa felicidade como se tivesse voltado aos meus 7 anos de idade. Fui ao teatro curtir - com toda a vibe boa que o teatro tem - a peça "A Moça Tecelã", adaptado da obra de Marina Colasanti, que estava se apresentando no teatro Elis Regina, na Usina. Não sabia do que se tratava a peça, só fui porque meu pai havia me convidado e acabei me surpreendendo e tendo uma noite encantadora.

O grupo que está exibindo a peça, é um grupo que assisto desde muito pequena, A Caixa do Elefante Teatro de Bonecos. Eles tem espetáculos muito bons, populares aqui em porto alegre (ver "Histórias da Corrocinha" e "O Cavaleiro da Mão-de-Fogo") e é a primeira vez que eles desenvolvem um espetáculo para o público adulto. E se eu disesse que foi bom seria mentira. Foi maravilhoso, um espetáculo profundo e acima de tudo sensível. Era como se os sorrisos apaixonados que ela dava fossem os nossos. As pessoas se enchergavam nela. Ou será que eu me encherguei? Acho que todos carregam um pouco de solidão e encanto dentro de si. Luzes e trevas, dúvidas e certezas, acertos e erros. Faz parte de existir.

Sem nenhum diálogo, com músicas instrumentais, sons de vento e passarinhos, jogo de sombras em cima de tecido e um dos bonecos que era um dos protagonistas, a peça encantava. Te levava pra viajar junto com a moça que tecia tudo a sua volta, e assim como ela fazia, também desfazia. Ela me deu outra dimensão sobre as mesmas coisas e é surpreendente quando a gente se dá conta de que a maioria das coisas a nossa volta, somos nós que tecemos, construimos. E de acordo (originalmente) somente com o nosso pensamento. Ela tece a própria solidão. Ela desfaz a própria solidão. Ela passa depois de uma experiência a entender a solidão. Depois de certos momentos da vida, nós - seres humanos - também passamos a compreender que a solidão não é algo que nós precisamos fugir como o diabo foge da cruz. Aceitá-la como uma visitante que ajuda e aconselha nos faz bem. A única coisa que a torna fria e amarga é o repúdio. É preciso compreendê-la, e assim, aprender a aproveitá-la. A peça mostra algo disso também, temos que saber entedê-la, compreendê-la. Sei que o espetáculo foi algo singular, mesmo achando que é comum as coisas a nossa volta sugerirem pensamentos e reflexões, é singular ir a um lugar que te faz sentir. Que te inspira a sentir tudo ao redor. Como se nós também fossemos capazes de tecer, e a um simples toque desfazer.

Logo no início já vem com um jeito pra tocar, com as parcas cantarolando uma música infantil ligeiramente conhecida "se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar..". Um espetáculo cheio de magia, que te faz querer dançar junto aos bonecos e deixar o som do vento te levar também. "com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, para o meu, para o meu amor passar.."

Além da jogada magnífica de luz e sombras, não é só uma representação ótima ou um lindo ensino sobre o poder que todos nós temos por dentro, É contar um pouco através do teatro sobre o que habita (mesmo que fundo) em nós, solidão, luz, sombras, sorrisos, amor, moradias eternas e danças que (ainda) nos envolvem como crianças.

28 de julho de 2009

Um cantinho pra chamar de meu

Todo mundo quer. Eu tenho todas essas coisas minhas que você acha tão complicado. E que te fazem ficar louquinho toda vez que olhas pra mim. Esse meu jeito de quem acorda sem estar acordada ainda, toda a ainda criança por quem você foi se apaixonar. A gente pode se acostumar.. Eu só não gosto tomar banho morno, nem de rosas amarelas. O resto a gente ajeita pode ajeitar! A gente vai viver só de amor, vem pra cá... vem.

24 de julho de 2009

Faz frio aqui na terra do nunca.

INVERNO. Acabei de ir ali na frente pegar o Jornal. E cara, parecia que o vento estava dando socos na minha cara. Friozinho de vez em quando é bom, ir pra serra, curtir a redenção em uma tarde especialmente fria e aproveitar pra ficar em casa curtindo com o namorado momentos de eterno romance (Mesmo que esse último não se aplique a mim). Tá certo que o inverno é sim uma oportunidade das pessoas redescobrirem a elegância que a paisagem branca traz, até por uma questão de auto-preservação, ninguém quer morrer de frio. E que forma melhor de fazer isso, se não com elegãncia? Eu adoro comer fondue, e ver um filme de baixo das cobertas. Mas será que alguém ainda aguenta acordar e ter que deixar a sua cama quentinha para o ar gelaado da rua?

Convenhamos, ninguém aguenta mais parecer um saco de batatas de tão encasacada, ficar desejando a todo momento, capuccino, nescau quente, cafés diversos (ai delícia), sopas, coisas quentes e ficar com a sensação que meus pés terão que ser amputados toda vez que eu vou dormir com eles gelando a cama. Não aguento mais ficar parecendo um urso toda vez que eu saio, e ter que sair da minha cama quentinha de manhã para o ar antártico da rua. Alguma dúvida de que o nariz escorrendo já cansou?

E - claro - o fator crítico: Discordo de qualquer um que diga que o inverno não dá vontade de comer. Quem em sã consciência não fica sempre tentado as delícias quentes nesta época do ano? Pratos assados, salgados de forno saindo fumacinha, chocolates derretidos, combinações cruéis que nós fazem sair do inverno para a primavera em verdadeiro desespero pelos 20kg que ganhamos por todos os 527º cafés que tomamos ao longo dos dias. O frio acaba me deixando comilona, emburrada, angustiada, compulsiva. Eu não sou fã, mas até um xis me deixa louca, só por ver a fumacinha saindo dele.

O verão pode ter todos os problemas de sempre, nós ficarmos nojentas por qualquer coisa e termos que tomar 5 banhos por dia, o fato de que nenhum lugar tem ar condicionado suficientemente bom pra ficarmos bem. O de que (pra quem fica em Porto Alegre no verão) o centro vira um lugar que exala odores inimagináveis com o sol batendo. Mas será que não podemos ficar felizes por não quase chorarmos pra tomar banho pelo vento desgraçado que bate bem na hora que a gente tira a roupa? E por não ter todas as "ites" atacando ao mesmo tempo que um resfriado vem te incomodar? O verão te faz vestir tecidos leves, e te sentir como os tais. Te faz poder ficar até tarde na rua, tomar um sorvete no fim da tarde com os amigos, e as 20h ainda ser cedo pra voltar pra casa. Vai dizer que qualquer paisagem colorida, cheia de verdes, não é capaz de nos fazer sorrir no verão? Poder ir a uma festa sem deixar 80% da sua roupa na chapelaria, deitar na beira-do-mar e olhar pro céu, curtir um violão á luz da lua.. as novas amizades, a consumação perfeita das antigas, a vibração mais que positiva da praia, da manga cavada. Mesmo pra quem fica em Forno Alegre, quer vibração melhor que não precisar estar sofrendo com doenças invernais e gordurinhas fora do lugar?

... É. Ainda faltam dois meses para eu começar a sentir qualquer calorzinho, e enquanto isso, protejam os rostos, comprem luvas e muitos BENEGRIPES e - aproveitando a oportunidade - juntem-se a mim tomando um chocolate quente, na Terra do Nunca.

19 de julho de 2009

Tá dificil me conquistar.

Botando no ventilador:

A vida é mesmo curiosa. Eu tenho todo esse meu jeito, expansivo, feliz, ligada no 220 volts sempre. A guria que tá sempre disposta a tudo, parceira pra todas. Tem amigas, mas não tem namorado, nem alguém. Não tem namorado.. Não quer namorado. Há gente que diz, cruel. Cruel. Sozinha. Amarga. Não tão feliz. E hoje é pra essas pessoas que eu dedico o post, no intuito de fazê-las mudar de idéia. Qualquer um que me conheça um pouquinho consegue ver que ser amarga e 'não tão feliz' não é uma das minhas características.

1º: Eu não sou metade de nada.
Tem gente que acha que é metade. E vive todo aquele dilema de 'achar o cara metade'. Primeiro: Eu sou inteira, não preciso de ninguém pra me completar, suprir o que me falta. Se diz por aí que não se pode gostar de alguém se você não gostar de você mesmo. Eu digo o mesmo: Não é possível estar com alguém imaginando que aquele alguém é o que falta em você. Quando essa pessoa for embora, isso vai junto também. Vai fazer o que? Continuar procurando alguém, até achar alguém suficientemente idiota pra concordar que o que falta em um encontra em outro, e se contentar em precisar desta pessoa o resto da vida? Amor é pra COMPLEMENTAR, não pra completar. Como eu dizia à uma amiga hoje, aquela frase "Somos um" eu entendo como "Somos um grande amor" e não somos uma pessoa. SÃO DUAS PESSOAS. Aos que ainda tem dúvida sobre isso, eu sugiro um psicólogo. Fazer uma listinha das suas qualidades e botar na parede do quarto. Fica a mercê do sofrido.

2º Tem gente que acha que não se pode ser feliz sem alguém do lado. Eu acho que é possível. Eu quero alguém pra me acrescentar, pra me fazer talvez um pouco mais feliz com a sua presença. Sabendo que a presença desta pessoa me é escolha, eu não preciso dela, eu a quero. Me arrisco a dizer que 'não tão feliz' é bem melhor do que 'falsamente feliz' que é o que a maioria das pessoas é, de fato. Além de perder o seu tempo.. acaba fazendo os outros perderem também. Eu não digo te amo pra alguém(e pra qualquer um), se isso de fato não me interessa e não é verdadeiro. Eu não saio caçando caras legais perfeitos e tudo de bom por aí, se eu topo, topei, Oba! Não dá pra dizer que não se fica feliz quando tu encontra O cara na noite, e o ego infla que nem balão. Mas fantasiar que vai casar com o cara... Não finjo que vou morrer se ele não ligar, posso curtir mas não vou aceitar namorar com o cara só porque ele é bom partido. Porque ele é lindo. Porque muitas gostariam de estar no meu lugar. Deixa elas estarem no meu lugar então. Ou porque o cara é simplesmente gente fina e eu devo me contentar em me dar bem com ele. Acho que não dá... Deve ser porque eu tenho que conhecer ele. Deve ser porque eu tenho que gostar dele.

Não toco em vidas, se eu não pretendo de fato me entregar. Não gosto de olhar dos olhos de uma pessoa e ter que dizer pra ela que simplesmente não é o suficiente o que ela tem a me oferecer. Assim como eu também não gostaria de ter que escutar que o que eu tenho a oferecer não é o suficiente para essa pessoa. Simplesmente não encontrei alguém que tenha me conquistado. Que saiba me conquistar todos os dias. Que o que ela tem a me oferecer seja irresistível. Irrecusável. Que o que ela tem a me oferecer seja o que eu quero acrescentar. Alguém que me faça querer. Tem gente que acha que eu sou cruel por acabar coisas que "podiam dar certo". Digam o que disserem.. A gente sabe quando vai dar certo. Porque a gente quer que der certo. E isso no começo é o suficiente.

Tem gente que acha que eu sou Cruel por isso, por não deixar qualquer um desperdiçar meu tempo e não permitir que outros desperdicem o seu comigo. Que não sair com qualquer um que queira ser minha 'cara-metade' é ser amarga e incompleta. Quando na realidade, se você PROCURA um cara-metade é sinal sim de que você está procurando em alguém alguma coisa que falta em você. Todos somos incompletos. Procurar o que falta na gente nos outros é besteira, procure em você mesmo. Ando pelas ruas, esbanjando alegria, quem pode dizer que não sou feliz? Tenho crises adolescentes.. bom. Como toda adolescente. E sou muito feliz assim "Sozinha". Porque estar "Sozinha" não quer dizer estar "Solitária". É um fato que graças a Deus, não depende da minha Crueldade, que ás vezes é de fato uma característica a parte, a se aprender a controlar.

Bolha.

Depois de muitos finais de semana ininterruptamente cheios, seja de sono ou dos alienigenas que eu chamo de meus amigos, tô eu aqui assistindo pela milhonésima vez Harry Potter. Pelo menos dessa vez eu tenho uma desculpa: O novo filme dele lançou essa semana, e é bom rever os antigos. Já que eu e a minha irmã já lemos todos os livros dele incontáveis vezes, nós temos todos os filmes em casa, piratas claro, (ainda) não somos ricas. Hoje o que eu vi foi a Ordem da Fênix, e eu acho incrível como eu ainda me surpreendo pelas coisas óbvias e completamente esquecidas que a gente vê nesses filmes. Em Benjamin Button eu quase tive uma síncope de reflexões nas 5 páginas escritas no meu caderno, assim como Wall-e e alguns outros.

Tirando a atuação pobre como sempre de Michael Gambon para um dos melhores personagens da literatura de ficção - e o fato de que nada substitui um bom livro - fico na obrigação de comentar a frase mais profunda do filme (tirando "você pode não gostar dele ministro, mas não pode negar que ele tem estilo").

"Não são as semelhanças, são as diferenças, Harry."

Automaticamente me vem a mente o clássico pensamento, o que nós aproxima dos nossos 'amigos' é principalmente as semelhanças que se tem de pensamento e não as diferenças, os pontos que seguimos divergentes quase certamente não são os favoritos. Não ao natural pelo menos. O que te faz discutir com alguém? Te faz não gostar de uma pessoa? Diferenças. E acima disso, diferenças não respeitadas. Isso vem a tona principalmente no ambiente de trabalho quando a diferença deixe de ser somente ideológica para chegar "as vias de fato". Dificuldade do ser humano.

Frequentemente - quando a gente não simpatiza com alguém (ou mesmo acaba não gostando) - a gente se pega surpresa quando fica sabendo que aquela pessoa tem o mesmo gosto musical que a gente, que talvez ela frequente o mesmo restaurante, e que aquela blusa que ela estava usando semana passada é igualzinha a que você tem dentro do seu armário. Derepente você se depara com grandes verdades, talvez só porque ela diverge de mim em algumas coisas não quer dizer que... STOP!!! Neste momento um significativo lugar no Continoum-Espaço-Tempo foi rompido! VOCÊ SAIU DA SUA BOLHA!! Congratulations!

Sim talvez ela tenha uma visão menos otimista da vida, e você seja uma das pessoas mais positivas da face da erra, talvez ela não ache que o seu texto foi o melhor e que você deveria ter ganhado. E talvez quando você for contar alguma coisa condenável pra ela, ela te condene. E a novidade está justamente aí: Isso definitivamente pode tornar a amizade de vocês uma coisa diferente de tudo que já se tinha visto. Ela gosta mais de ficar em casa, você gosta mais de sair. Ela tem namorado, você acha uma perda de tempo pra você mesma. Vocês aproveitam uma tarde de domingo e vão a redenção mesmo assim, combinam que uma vez por mês vão sair à noite e relevam a presença do namorado em algumas tardes. Ela acaba contando com você, e você acaba gostando mesmo dela. E onde foram parar aquelas todas diferenças que tanto empatizaram a relação de vocês?

A resposta é simples: Continuam no mesmo lugar onde sempre estiveram. A diferença agora é que vocês respeitam as diferenças que tem, e a admiração cresceu dentro de vocês uma pela outra. Chegam a se perguntar: "Como ela consegue ter tanta paciência?" ou "Como ela consegue fazer tanto?". Isso cria coisas boas por dentro - coisas, que quem só convive com gente "semelhante" não tem - ensina a gente a respeitar as diferenças dos outros de dentro, pra fora. Nos ensina a pensar no outro, a ceder quando é necessário, a respeitar mesmo que diferente. E saindo da bolha, a gente acaba vendo que as diferenças nos fazem crescer.

"Não são as semelhanças, são as diferenças, Harry."

18 de julho de 2009

Tic-Tac

Resolvi mudar, agora. Ontem antes de dormir me peguei pensando sobre as constantes mudanças que ocorrem em nossas vidas. E como isso se não vem de dentro pra fora é completamente inútil. Como agente tem a capacidade de transformar aquilo que não mais se apresenta interessante. Ou de simplesmente descartar, porque na realidade é isso que tem que se fazer, it's the moment!

Mais estranho ainda é pensar em como, há tempos atrás, conseguíamos nos satisfazer e sentir felizes com o pouco que a vida oferecia... Tudo estava ótimo e no seu devido lugar, e também se não estivesse, não tinha problema. A vida corria solta como deve ser.Mas acho que tudo isso faz parte de crescer.

Querer mais e o melhor sempre. Ou agora valorizar mais coisas pequenas como o seu (a minha) gato(a) de estimação brincando com suas almofadas no chão da sala. Ficar contente com isso, mas ao mesmo tempo querendo mais. A incoerência humana é ininteligível e por isso mesmo fantástica. Somos todos brilhantes dentro do papel de cada um. Como pode alguém respirar verde em meio a cidade grande? A resposta é simples: Da mesma forma que uma cigarra consegue cantar embora esteja prestes a morrer.

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Como uma bomba-relógio.. Prestes a explodir.

17 de julho de 2009

A santa!

Arrasa!
O meu projeto de vida
Querida!
Estrêla do meu caminho
Espinho!
Cravado em minha garganta
Garganta!
A santa!
Às vezes troca meu nome
E some!
E some!
Nas altas da madrugada...

Coitada!
Trabalha de plantonista
Artista!
É doida pela portela
Ói ela!
Ói ela!
Vestida de verde e rosa
A Rosa!
A Rosa!
Garante que é sempre minha...
Quietinha!
Saiu prá comprar cigarro
Que sarro!
Trouxe umas coisas do norte
Que sorte!
Que sorte!
Voltou toda sorridente...

Demente!
Inventa cada carícia
Egípcia!
Me encontra e me vira a cara
Odara!
Gravou meu nome na blusa
Abusa!
E acusa!
Revista os bolsos da calça...

A falsa!
Limpou a minha carteira
Maneira!
Pagou a nossa despesa
Beleza!
Na hora do bom me deixa
Se queixa!
A gueixa!
Que coisa mais amorosa
A Rosa!
A Rosa!
E o meu projeto de vida
Bandida!
Cadê minha estrêla-guia?
Vadia!
Me esquece na noite escura
Mas jura!
E jura!
Que um dia volta prá casa...



Arrasa!
O meu projeto de vida
Querida!
Estrêla do meu caminho
Espinho!
Cravado em minha garganta
Garganta!
A santa!
Às vezes me chama Alberto
Alberto!
De certo!
Sonhou com alguma novela..
Penélope!
Espera por mim bordando
Suando!
Ficou de cama com febre

Que febre!
A lebre!
Como é que ela é tão fogosa...
(A Rosa - Chico)

14 de julho de 2009

Crise

Crise econômica. Assunto amplamente discutido, amplamente divulgado. Importante. Mais ou menos como a morte de Isabela Nardoni, em Março passado. A comparação parece desligada, mas é exata.

Vejamos, o veículo de duas mãos que liga os dois casos, MÍDIA: Divulga todos os dias o esteticamente bacana, aceitável, cool, uma vez ou outra causas sociais, afinal uma vez por mês é o suficiente o trabalhor ver que está na televisão. Na época da morte e após, o assassinato de uma menina de 5 anos foi amplamente explorado pela mídia sem escrúpulos sugerindo culpados e culpadas, cobrando reações de familiares, depoimentos no Fantástico, induzindo a opinião pública. "Que horror" foi um dos comentários que eu mais escutei na época. Informação é uma coisa, indução é outra. É um horror mesmo. Sinto que a opinião pública foi manipulada, não porque acredito que o pai e a madastra da criança sejam inocentes, mas talvez porque esse caso jamais seria julgado com imparcialidade pela exploração pública que a mídia fez durante meses, tanto pelo júri como pelos juízes responsáveis pelo caso. Mas vejamos isso como isso está relacionado a separação de classes utilizada sutilmente pela mídia: Todos os dias em favelas e periferias do Brasil inteiro famílias da classe mais baixa da sociedade passam situações inimagináveis, abrindo mão ás vezes da própria alimentação para os filhos. Mais que isso, todos os dias milhares de crianças morre de fome no mundo, bem mais do que a guerra ou a violência (bom lembrar que poucas coisas matam mais do que doenças cardiovasculares, cerebrais e AIDS no caso dos países de Terceiro Mundo). A Fome mais. A Inanição está sim entre as principais causas de morte no mundo. "A cada sete segundos, morre uma criança de fome" (Documento-base da Campanha da Fraternidade de 2005). E Para cada dólar que a ONU gasta em missões de paz, o mundo investe 2 mil dólares em guerras. Onde estão os cartazes?

Eu me pergunto o que faz a divulgação desses dados - chocantes - ser tão restrita. Em 2005 a cada sete segundos morria uma criança, hoje, é a cada cinco. Não consigo deixar de me preocupar, isso acontece pela naturalização que damos usualmente à pobreza; pela banalização que envolve as injustiças sociais, cotidianas ou não; e, sobretudo, por serem as mortes por fome eminentemente marcadas pela classe social de suas vítimas: são os pobres que morrem de fome, e morrem de fome principalmente os pobres de países com elevados índices de pobreza e de desigualdade social. Depois disso vem o cúmulo, quando Márcia Quintslr, chefe da Coordenação de Emprego e Rendimento do IBGE (2006) diz: "O cenário não é a África, vamos deixar isso claro, embora no estágio mais grave seja identificada a fome", afirmou Márcia Quintslr, chefe da Coordenação de Emprego e Rendimento do IBGE (2006), se referindo a grande crise brasileiro em 2004 estiluladora do Fome Zero. Ok, fiquem tranquilos com a África. Sem pensar que hoje para nós é só "a fome". Amanhã a AIDS, as doenças, a superpopulação, a condição (ou pensando bem a falta de condição) social, humanamente aceitável.

Tudo isso está ligado ao sistema onde vivemos. Defendemos o capitalismo que sempre foi o sistema vigente aqui, e que fracassou aqui como para a maioria da população mundial. O mesmo sistema que mente para nós todos os dias, induzindo futilidade e mentiras. Hoje no mundo somos 6 bilhões de habitantes e segundo o BM 2,8 bi sobrevivem com menos de 2 dólares por dia. Todos criticam Cuba por não permitir que seus 'nativos' saiam do país, quando na realidade os que criticam provavelmente jamais poderão sair do seu Estado, levando um vida miserável assim como milhares de outros. Porque eu digo isso? Talvez porque o fato mais relevante que a imprensa brasileira conseguiu explorar durante 2 meses inteiros foi uma única menina de classe-média, cujo pai era advogado reconhecido foi jogada de um edifício da Zona Norte paulistana. Pra quem acha a África muito distante: 54 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha da miséria: recebem menos de meio salário mínimo por mês; E percebam.. eles recebem, isso é, eles trabalham. Isso.. é.. trabalho?

A Mídia explora tudo aquilo que lhe é vantajoso, conveniente. O grande mercado paga aos veículos de comunicação para lembrar as pessoas que está tudo bem, não é tanta gente assim, e afinal de contas, isso ainda não atingiu você! E daí gente que enfrenta a fome, o trabalho árduo, o dinheiro (e a falta dele), o cansaço por tudo isso todos os dias não é lembrado no Jornal das 19h. Muito menos todos os dias quando eu abro o Correio.

Desde o começo de 2008 só se fala na crise econômica que atingiu os bolsos da maior potencia mundial, indicando a alta ou a baixa do dólar, a sua valorização comercial. MAS.. Onde estão as relações humanas? Onde estão as milhares de pessoas desabrigadas por causa dessa mesma crise, as crianças que estão sendo criadas dentro de carros sem esperança ou expectativa de vida? Para os estremistas que ao acaso vão ler este texto, não defendo os EUA, defendo a vida. E a condição para a sua pré-existência. Coisa que todas as noites - além da morte de meninas classe-média - deviamos ver no Jornal.


Sinceramente não vejo motivo para o alarde inicial. A única diferença da crise hoje, já cotidiana para todas as classes média-baixas anteriormente, é que agora é quem tinha dinheiro foi "mais" atingido, não foi possível lançar o gás para o bode expiatório: O Povo. Infelizmente ela já passa fome e necessidades básicas todos os dias. Pra quem sempre viveu dentro de uma crise - crise econômica, crise social, crise HUMANA - a crise econômica que estorou no último ano significa poucas coisas, sugerindo que nem os causadores dela conseguem se salvar do buraco fundo para o qual eles estão levando a humanidade. Usando o gancho que li em uma coluna da Rosane de Oliveira se referindo em quem vai acabar a festa e fechar as portas: "Quem vai apagar a luz?"


Desumanização, fome, precarização, desvalorização do ser humano por ele próprio, tráfico, meio-ambiente, inversão dos valores.

Quem vai ser o último a sair?

"Quem vai apagar a luz?"

8 de julho de 2009

Marcas

E são tantas marcas
Que já fazem parte
Do que eu sou agora
Mas ainda sei me virar
(Lanterna dos afogados - Paralamas)

É incrível como as coisas mudam. E acontece tudo de forma tão natural que as vezes a gente demora a se dar conta, que o que acontece hoje tu nem imaginava ser possível. E agora é.

7 de julho de 2009

MJ e minhas impressões.

Michael Jackson morreu na semana passada. O cara está morto, nada mais e nada menos que isso. Sem hipocrisia aqui, eu nunca fui uma grande fã dele, nada disso. Ele nunca fez parte da minha playlist permanente, e eu nunca fui viciada eh thriller. Eu adorava a dancinha dele, mas isso já é outra história. Ele queria ser enterrado em uma caixão dourado, 'folhado' a ouro 14 quilates? Tudo bem, cada com as suas esquisitisses. Ele foi era um esquisito famoso, fazer o quê, ele tinha dinheiro pra isso mesmo (ou não tinha dinheiro, mas tinha pose o suficiente pra se quisesse fazer, executar).

INGRESSOS pro velório. Essa é a parte triste.. O CARA ESTÁ MORTO. Guardem pros filhos, guardem pra si.. mas não gastem pra ir no enterro de um cara que - definitivamente - não vai piscar vocês (não cheguei a conhecê-lo mas tenho a impressão que a nossa presença não vai fazer falta pra ele). Pior ainda, a maioria dos idiotas não é fã de verdade desse cara, os ditos 'ingressos' pro enterro já estão na mão dos cambistas, por uma verdadeira fortuna. Homenagear, gritar e chorar. Tudo isso pode se fazer em casa, e é até melhor. O que vai contar pros netos? Ao invés de "Eu fui no show do MJ e ele era o máximo", "Eu fui no enterro do MJ e ele tava duro.. DURO entendeu? haha" Merda. Doa o dinheiro, eu tô precisando.

Outro olhar: MJ estirado na tábua, de olhos fechados como qualquer ser humano. É. É isso aí camarada, esse é o destino final, deitado todo mundo é igual. Pega o dinheiro que tu ia gastar nessa porra de velório, só pra ver o cara morto ( REPETINDO não cheguei a conhecê-lo, mas tenho a impressão que a tua presença não vai fazer falta pra ele) e vai fazer uma viagem amigo. Vai dar presentes pra quem tu gosta, paga uma prostituta, vai pra Vegas e me paga pra ir junto, faz um festa com o tema de MJ, doa pros necessitados (presente. haha) mas não vai lá ver o cara duro, isso não é homenagem pra ele querido, aquela piscada - definitivamente - não foi pra você.

OK, eu peço desculpas. Não to respeitando a esquesitisse alheia; Vai que alguém tem um desejo mórbido de ver o cara e é frustrado com isso. Peço desculpas. Mas de qualquer forma..

.. De qualquer forma vou relacionar tudo essa merda aí com um texto que tem no orkut de um conhecido meu, que eu tenho a necessidade de ler de vez em quando, pra ver se cai a ficha. To viva, RELOOOOU. Reage, fofa.

"Não esqueço uma lição da minha avó. Ela lia os obituários do jornal. A primeira seção que consultava. Observava com atenção a história e as fotografias dos falecidos para encontrar semelhanças com a sua. Um dia perguntei porque ela fazia isso. Respondeu: "para ficar com medo da morte ao invés de ficar todo o tempo com medo da vida". (Fabrício Carpinejar)

Olho para Michael Jackson no auge da sua carreira, vejo ele dançar, vejo ele gritar e suar de emoção. Vejo isso e todos os motivos para que ele fosse reconhecido na sua morte como o Rei do pop. Eu apaguei a luz, botei o som bem alto e dancei, dancei imaginando que o maior ícone do pop ainda vivia na minha adolescência e eu pude vê-lo na capa das revistas. Enceno botar as luvas, puxo o chapéu e sussurro "It's close to midnight Something evil's lurkin'in from the dark Under the moonlight You see a sight that almost stops your heart". Minha homenagem a Michael Jackson. Tenho certeza que ele pode me ouvir.

3 de julho de 2009

Ser humano.

"Agente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir as cortinas. E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, o ar, esquece a amplidão. A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz. E aceitando negociações de paz aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração. Agente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos. Agente se acostuma à poluição. Às salas fechadas, de ar-condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Acostuma-se a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta do pé, a não ter sequer uma planta.Agente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana. E no fim de semana não há muito que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado. Agente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma."


Autor: não sei, mas eu queria ser esse cara.