27 de outubro de 2009

Tapete vermelho

Todas nós meninas, já imaginamos em algum momento da vida em sermos a menina mais olhada da festa, aquela que quando chega na festa, se estende um tapete vermelho que todos gostam e vem cumprimentar. Linda, simpática, com aquele cara lindo e querido que ama ela ao lado. E seilá, quando eu boto a minha música bem alto eu sou essa guria, aquela que dança muito no meio da festa, e sem querer, só se tem olhos pra ela. Até me esqueço que eu tô lavando louça e que eu não posso demorar porque tenho mais coisas pra fazer. Mas acho que depois de um tempo o anonimato é um presente dos céus, pelo menos quando a gente faz coisas etílicamente memoráveis - como é o meu caso - onde nunca quando sei sai, sabe-se o que vai acontecer. Acabo me deixando levar por distrações, hã, no mínimo muito agradáveis ao meu momento espiritual: Viver e deixar viver. Quer momento melhor que esse? Acho que muitas dessas meninas que são o centro das festas, simpáticas, com namorados de sorriso de plástico, se sentem frustradas por não se deixarem libertar dessas rotinas sociais que elas mesmas criaram ao seu redor. Não sei exatamente como deve ser viver sem meus momentos mais loucos, da segurança de saber que eu posso me libertar sem ninguém apontar e/ou criticar por isso. Sem me preucupar com a imagem, com a dignidade. Porque nesses momentos, no momento mais escuro da noite, quando a música toca mais alto e só quer deixar entrar dentro de você, elas só servem pra encher papel, quando o vazio vai se espalhando por dentro como uma água bem fria, quando se nota que a única coisa que ficou da noite passada foram flashes de simpatia muito vazia, e músicas já anteriormente tocadas quando - no calor da festa - você vai embora no fundo sem aproveitar absolutamente nada. Quando essas meninas centro de festa já não se irritaram com a convenção social, e mandaram tudo bem longe, virando aquela falta excessiva, escandalosa e vergonhosa de dignidade. De respeito com elas mesmas, denegrindo não só a imagem delas (como se não bastasse), mas a imagem geral de tantas outras mulheres solitárias nessa mesma festa. No fundo sem nada, simplesmente frustrante não ser uma ninguém sem tapete vermelho e namorado do sorriso de plástico. Vantagens de uma vida anônima, e não tão anônima assim. Digamos que anônima o suficiente, conscientemente que o meu momento de estrela tem minuto e segundo pra terminar, e quem dera ser quando DJ anuncia, porque normalmente é minha mãe gritando "Lucila, ABAIXA ESSE SOM!"

26 de outubro de 2009

Verdade

Peguei-me perguntando esses dias o que é "a verdade". A verdade no sentido mais cru da palavra, quer dizer alguma coisa que é real, ou possivelmente real, dentro de um sistema de valores. Mas não é isso que me ocorre quando eu penso em verdade (porque isso é coisa de dicionário) . Quando eu penso em verdade eu sinto que é uma coisa bem distante, como se fosse ela que nos escolhesse, e não o contrário. Pra não começar complicando, vou falar do oposto: Porque é tão mais fácil a mentira? É bem mais fácil, porque a mentira nós podemos escolher. Tramar, modificar e adequar a nossa maior insanidade. A verdade é nua, e crua. Nós podemos simplesmente aceitá-la e lidar com ela da melhor maneira possível. O que na maioria das vezes, não é (nem de longe!) o suficiente. A quantidade de mentiras que nós usamos ao longo da vida para tornarmos situações possíveis, construirmos coisas, e destruirmos tantas outras, é incrível quando se para pra pensar. Mentiras são coisas que a gente inventa pra gente mesmo pra se auto-preservar e que a gente repete pros outros também, na esperança de que assim, se alguém acreditar, isso vá se tornar mais verdade. A verdade é cristalina, mas normalmente ela vem cheia de capas, escondida deibaixo de panos pra que a gente nao posso ver ela logo de cara. Como se fosse algo que a gente não pode entender, mas a verdade pode entender a gente, porque não o contrário? A verdade é límpida assim, sem o toque inquietante das águas quentes que a mentira dá a alma. Há épocas que nós precisamos dessa inquietude e sensação de liberdade, mas não sempre, e não mais agora.

Mentiras vão e mentiras vem, uma hora a gente acaba se aquietando. Aprendendo a mentir direito pelo menos, porque se não só vai é dar trabalho. E tem que ter resultado, e tem que ser algo verossímel. A gente sempre acaba se achando brilhante, meu deus, nao acredito que deu certo. Não acredito que funcionou, que ela acreditou. Que eu acreditei!

Pois é, nao é tao bonito quando é com a gente. Depois de um tempo acho que até mentir pra gente acaba ficando feio, porque a gente cresce e começa a aceitar se não bem, com uma maior maturidade algumas verdades. A gente cansa. Cansa de se preocupar, cansa de esperar, cansa de imaginar, cansa de forjar. Forjar idéias, forjar sentimentos, forjar a gente mesmo. Por fim, alguma coisa que eu não sei o que é (deve ser a verdade), nos leva a ver que tudo que tiver que acontecer, seja hoje, amanhã ou depois, um dia vai vir. Para de esperar verdades e mentiras que não tem dia marcado pra chegar, porque afinal, o que chega sem esperar chega de forma mais natural, com muito mais emoção. A mentira é simples, qualquer um em qualquer lugar do mundo pode usá-la, modificá-la e contá-la a gosto. Mas a verdade (ah a verdade!) é aceita por poucos e loucos, que só sabem ser assim, verdadeiros. A verdade (essa sim!) é grandiosa.

Vale o trabalho, queimação dos neurônios que restaram depois de todas as noites etílicamente memoráveis, como para uma agulha dentro de um palheiro. Porque somos pérolas dentro de ostras mentirosas, e água límpidas em épocas de seca. Tudo isso, só pra ver o nosso lado verdadeiro, sorrir.

9 de outubro de 2009

Fundamental

Não sei quem inventou os padrões de beleza, mas ô criaturazinha maldita essa. Porque padrões? Pra que padrões? Sois humano, não sois máquina. Deus não é uma grande fábrica onde todos os seres humanos são criados na forma de produção em série, e quando eventualmente alguém sai com "defeitos" excessivamente diferente, é jogado pra escanteio e botado em liquidação. Em que mundo nós vivemos?

São as nossas particularidades (que podem ser consideradas "feias" por outros, ou não) que nos tornam realmente especiais e únicos. Pra que seguir os padrões se são nossos defeitos que nos tornam encantadores? Como um amigo já me disse, qualidades em geral, todos tem as mesmas. Seres simpáticos, amigos , sinceros. Não fáceis de encontrar, conquistar e outros etecéteras, não é isso que eu estou dizendo. Mas segue-se sim um padrão de qualidades. Simpático, responsável, amigo, parceiro, honesto. Já os defeitos são coisas tão mais particulares! Tão mais pessoais, que nos tornam tão mais apaixonantes (e apaixonados!).

O jeitinho que ela franze a sombrancelha quando está irritada, o medo incontrolável que ele tem de lugares altos. O quanto ele odeia laranja e essa é a cor do seu sofá, e a forma definitivamente esquisita e anti-social que ela ri em lugares públicos. PADRÕES. pra quê serve mesmo? Quem quer ser alta, "linda" e loira.. (e tenho que dizer aqui, sem NADA pra pegar) quando pode ser você com todos os seus dotes viciantes e encantadores?

A gordurinha que você tem do lado, que ele adora. O fato de você ser baixinha, e sempre ter que "pedir" aquela ajuda pra pegar alguma coisa. A cor do seu cabelo que reflete no sol de uma forma que alguns só conseguem com refletores em um estúdio. O encaracolado leve que fica na ponta dos seus cabelos em alguns dias, sem precisar de nenhum cabelereiro famoso pra chegar nisso. Quem disse que não é divertido ser amiga dos meninos? Ganhar deles na guerra de braço não é um fato qualquer. E ainda por cima ser respeitada por isso. E ainda - mais que isso - a forma única que em alguns dias o seu sorriso toma forma, e aquele jeitinho engraçado que o cabelo dele fica depois de acordar, sempre parecendo que levou um susto. Falando sério meninas, dá vontade de agarrar. O jeitinho dela que quando ri parece uma criança de 5 anos. As gordurinhas dele nas costas que quando a gente pega, dá vontade de morder. (e dependendo, aproveitem! porque pode morder mesmo). E o fato de você conseguir quebrar recordes inimagináveis, não é qualquer um que consegue fazer uma escova decente em menos de meia-hora.

É diferente? Bota em liquidação as revistas, as ditaduras de consumo que TE consomem todos os dias! Tudo isso é besteira, ninguém sabe ser encantador e único em um equilíbrio tão perfeito quanto você! A favor do artesanato, do artista, de cada peça especial e única, sem nenhum preconceito contra cada fio de cabelo fora do lugar! Pra acabar com o mundo cinza, dominado pela máquina (e a produção em série). E lembrar que um dia como você mesma, colorido, expontâneo e natural, te deixa sim (ISSO SIM) muito mais sexy, auto-confiante e digna de todas as capas.

Ser você mesmo.
Isso sim, é fundamental.

6 de outubro de 2009

De humor e de amor,

Sempre mude.

Sofá sem lados

Escovando os dentes de manhã eles vem me fazer perguntas incovenientes, e querer que eu ceda um espaço junto do meu copo da escova. Um pedaço do meu sofá. Planos. Eu fujo sutilmente. Normalmente eles não percebem. E quando percebem, procuram o meu olhar. Se eu olhar eu vou dizer a verdade, melhor não olhar.
Fico quieta pensando. Sempre paro pra pensar isso: Eu vou estar fazendo mais mal a eles se eu não falar. Daí eu acabo dizendo o que todos eles não esperam escutar na hora de escovar os dentes: que eu gosto muito deles, são legais e tudo e nós nos entendemos, mas é só isso. Eles demoram alguns segundos para absorver o que eu quero dizer com o meu "só isso". Daí ficam uns segundos olhando pro nada e a primeira reação é surpresa. Depois ficam chateados, magoados, brabos e outras coisas. Nunca me aconteceu de dizerem que eu estava exagerando, pelo menos até agora. Certamente em algum momento vai acontecer, e provavelmente vai ser bem merecido, mas enquanto isso eu vou vivendo. Até porque normalmente eu deixo chegar no ponto limite. Aonde eu ainda não estou mentindo, se eu vou mentir convenhamos que só vai me dar trabalho. Melhor deixar pra lá. Talvez até possa soar como algo precipitado da minha parte, mas quando os dois estão na mesma vibe no relacionamento, isso nunca soa como um fim, uma crítica ou um aviso. Isso soa simplesmente como algo que os dois tem consciência e que foi exposto em palavras agora. E assim permanecerá. Então melhor avisar. Eu nunca quis ninguém dizendo por aí que eu dei uma impressão falsa, porque com essa atitude aí em cima, eu posso dizer que é mentira.

Falando nisso, tem um monte de gente por aí que já disse que eu sou fria e outros etecéteras irrelevantes pro contexto desta conversa. Podem dizer o que quiserem. Eu tenho consideração pelas pessoas a minha volta, e comigo mesmo, portanto eu não deixo os outros desperiçarem seu tempo comigo e obviamente não deixo que ninguém desperdice o meu. Isso sim eu acho inteligente.

Afinal, esse sofá não tem lados, esse sofá é meu.

3 de outubro de 2009

Wake up

Você já se pegou pensando tanto no futuro próximo quando se dá conta de que está sentado na mesma cadeira por horas, dias e assim vai?

Pois é, eu já. E hoje no ônibus eu me peguei pensando em como as coisas aconteceram rápido. Muita gente, muitos acontecimentos, muita informação, para se passar tudo se parece tão longo, mas quando vemos esses 'acontecimentos' já fazem parte de um passado longínguo que nem damos uma olhada antes de deixar pra trás. E o que me fez despertar essa cadeia de pensamentos foi a 55ª Feira do Livro de Porto Alegre, que está cada vez mais próxima agora (30 de outubro a 15 de novembro). E eu me peguei surpresa ao pensar nisso.

Normalmente a Feira do Livro (pelo menos para mim) parece demorar algo parecido com anos da vida da gente pra chegar, e durante ela, nunca há tempo suficiente para adquirir todo o conhecimento embutido dentro de todas aquelas páginas. Mas dessa vez eu parei para me situar. Em que mês nós estamos mesmo? OUTUBRO? Mas nao era ano passado? A feira não terminou agora a pouco? Meu deus. Que surpresa. E mesmo assim é impressionante constatar que as mudanças nesse período de tempo são notáveis, e nem ao menos eu parei de fato para considerar! Que assustador. Mudanças são normais, e pela naturalidade com que aconteceram no último ano.. podemos dizer que as vezes temos que parar e chacolhar a cabecinha. Tem alguém aí dentro, com um cronômetro? A vida está passando, hellou!

Que maldade da minha parte, a vida não está passando.
Pelo menos a minha não está. A minha vida está desfilando, pra vida e pra fila de todo mundo que quiser assistir! Que bom está sendo viver o momento pleno dos dias, sem sentir que esse segundo é desperdiçado. E quando parar pra analisar, ver que com o tempo, algumas coisas mudaram. Algumas pessoas saíram e outras entraram pelas minhas páginas. Algumas pessoas mudaram de endereço, outras de cidade. Algumas continuam do meu lado, outras não. Algumas mudaram o cabelo, outras o pensamento. Ter a firmeza para guardar velhos livros, e arrumar sua estante para os novos capítulos que chegarão em breve. Ter a confiança de mesmo com os novos espaços abertos na estante, não esquecer dos livros-de-cabeceira que acompanharam você durante todos esses anos. Ver que o que mais mudou no final das contas, foi você.

E poder sorrir com isso.

1 de outubro de 2009

Amala

Estava assistindo agora a pouco uma série norte-americana, onde eles fazem dois ou três episódios especiais na África, em um campo de refugiados, em Darfur. E é claro que o fato deles fazerem esses episódios não diminui em nada, a sua falta de atuação no campo humanitário internacional, quando se trata de fazer algo para fazer a diferença de fato. Pronunciamentos, declarações de apoio, me botem em um palanque que farei o mais belo discurso já visto por uma adolescente. Mas eu falo de atitude, porque quando eu puder, eu vou fazer mais.
Os investimentos norte-americanos para políticas intervencionistas são só para quando se pode retirar algum lucro, em guerras (que são lutas por espaço para investimento e retirada de lucros absurdos onde o povo recebe uma migalha ínfima do todo, quando recebe) onde milhares de vidas são perdidas sem saber exatamente o porquê. Esse é o sistema em que vivemos, eu não acredito que ainda existem pessoas que dizem que sistema capitalista ainda não entrou em crise. Citando, a África. Lá a guerra permanece. Fome, desigualdade, uma guerra étnica sem fim. O tratamento nunca chega. Ajuda. Enquanto o mundo para para debater se o que acontece nesses lugares é considerado ou não um genocídio, mulheres são estupradas, crianças tem malária, esquisstomose, bebês nascem com AIDS, homens são mortos pela posição 'social' onde nasceram (lá se tem um sistema próprio de crenças, e homens a quem o povo escuta, as 'autoridades' locais, tratam logo de matar). Crianças vem à nossa companhia sem a menor condição de sobrevida, sem a menor expectativa. Não se tem tratamento médico suficiente a todos aqueles atingidos. Não existe ajuda o suficiente. Gente que nem sabe por exato o que está acontecendo, apenas sabe que aqueles que queimaram a sua aldeia devem ser o inimigo.

Gente que se contenta com um prato de comida a noite, e saúde. Gente que precisa de ajuda, porque que tipo de pessoa merece suportar esses sofrimentos? E se fosse com a gente, nós não íamos querer ajuda? E se fosse a sua casa pegando fogo? E se fosse a sua família? E se fosse o SEU tratamento médico? Enquanto isso as mesas de reunião em todo mundo, uma vez por semana discutem a pauta, interferir ou não interferir? Não entendo porque para realizar ataques, detonar guerras eles são tão decididos. Dinheiro! E tudo em nome do mais profundo apego aos direitos humanos. Para isso a política intervencionista deve servir. Mas quando companheiros, irmãos, seres humanos tão bons quanto nós e que merecem tanto viver quanto a gente seguem morrendo todos os dias das formas mais cruéis que o ser humano conseguiu inventar, o mundo não se une para ajudar. Isso meus irmãos, é o sistema onde vivemos. O capitalismo globalizado é tão decadente, putrefato e destrutivo quanto a escravidão nos tempos do Império Romano. Já não oferece valores positivos à sociedade. E em um mundo onde as guerras deixaram de ser armadas, para se tornarem nucleares, é para nós, um desafio evitarmos que o enterro do capitalismo não seja também o da espécie humana. Ou de tudo aquilo que nos torna humanos.

Alguém tem coragem de defender isso?
Para os empenhados em construir um mundo melhor.

Para a posterioridade, "Amala", quer dizer esperança.