26 de outubro de 2009

Verdade

Peguei-me perguntando esses dias o que é "a verdade". A verdade no sentido mais cru da palavra, quer dizer alguma coisa que é real, ou possivelmente real, dentro de um sistema de valores. Mas não é isso que me ocorre quando eu penso em verdade (porque isso é coisa de dicionário) . Quando eu penso em verdade eu sinto que é uma coisa bem distante, como se fosse ela que nos escolhesse, e não o contrário. Pra não começar complicando, vou falar do oposto: Porque é tão mais fácil a mentira? É bem mais fácil, porque a mentira nós podemos escolher. Tramar, modificar e adequar a nossa maior insanidade. A verdade é nua, e crua. Nós podemos simplesmente aceitá-la e lidar com ela da melhor maneira possível. O que na maioria das vezes, não é (nem de longe!) o suficiente. A quantidade de mentiras que nós usamos ao longo da vida para tornarmos situações possíveis, construirmos coisas, e destruirmos tantas outras, é incrível quando se para pra pensar. Mentiras são coisas que a gente inventa pra gente mesmo pra se auto-preservar e que a gente repete pros outros também, na esperança de que assim, se alguém acreditar, isso vá se tornar mais verdade. A verdade é cristalina, mas normalmente ela vem cheia de capas, escondida deibaixo de panos pra que a gente nao posso ver ela logo de cara. Como se fosse algo que a gente não pode entender, mas a verdade pode entender a gente, porque não o contrário? A verdade é límpida assim, sem o toque inquietante das águas quentes que a mentira dá a alma. Há épocas que nós precisamos dessa inquietude e sensação de liberdade, mas não sempre, e não mais agora.

Mentiras vão e mentiras vem, uma hora a gente acaba se aquietando. Aprendendo a mentir direito pelo menos, porque se não só vai é dar trabalho. E tem que ter resultado, e tem que ser algo verossímel. A gente sempre acaba se achando brilhante, meu deus, nao acredito que deu certo. Não acredito que funcionou, que ela acreditou. Que eu acreditei!

Pois é, nao é tao bonito quando é com a gente. Depois de um tempo acho que até mentir pra gente acaba ficando feio, porque a gente cresce e começa a aceitar se não bem, com uma maior maturidade algumas verdades. A gente cansa. Cansa de se preocupar, cansa de esperar, cansa de imaginar, cansa de forjar. Forjar idéias, forjar sentimentos, forjar a gente mesmo. Por fim, alguma coisa que eu não sei o que é (deve ser a verdade), nos leva a ver que tudo que tiver que acontecer, seja hoje, amanhã ou depois, um dia vai vir. Para de esperar verdades e mentiras que não tem dia marcado pra chegar, porque afinal, o que chega sem esperar chega de forma mais natural, com muito mais emoção. A mentira é simples, qualquer um em qualquer lugar do mundo pode usá-la, modificá-la e contá-la a gosto. Mas a verdade (ah a verdade!) é aceita por poucos e loucos, que só sabem ser assim, verdadeiros. A verdade (essa sim!) é grandiosa.

Vale o trabalho, queimação dos neurônios que restaram depois de todas as noites etílicamente memoráveis, como para uma agulha dentro de um palheiro. Porque somos pérolas dentro de ostras mentirosas, e água límpidas em épocas de seca. Tudo isso, só pra ver o nosso lado verdadeiro, sorrir.

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