19 de abril de 2010

Pontuando.

O ponto tem algo de definitivo, marcante e seguro que eu nunca consegui ter, sempre me ative a sentimentos menos nobres e mais sinceros, meios-pés que estão sempre pisando em algum cantinho de sala, mas não soleiras inteiras. O ponto também permite que nós saibamos que podemos desfrutar intensamente de cada verbo, palavra e letra desde que lembremos que o ponto também significa ter hora e lugar pra acabar. Desfrute até o ponto. E porque o fim tem sempre que parecer algo ruim? Tão ruim assim? Ele determina o final. Ponto. E não tem porque sempre ver o final como algo tão triste, mesmo que eu concorde que ficaria muito mais bonito de lembrar se soubéssemos exatamente onde tudo termina. Aquelas tristezas profundas dariam lugar a uma tranqüilidade exorbitante que a maturidade traz pra alguns. Saber onde termina. Sem passar pelo sofrimento de reler várias vezes um mesmo parágrafo, querendo enxergar toda a pontuação que ali existe, sem aceitar a pontuação que dão a ti próprio. Ponto final.

E o ponto não é só um sinal de pontuação, ele abre e encerra ciclos como quem brinca com um coração, uma mente e algumas palavras que a gente insiste em dizer só porque acha que a hora de ponto está chegando. Nada termina antes do fim, e a gente tem o hábito desagradável de sempre esquecer desses detalhes... Não precisamos sempre fazer dos pontos que a vida nos traz, um muro de chorumelas e pranto incansável. Não precisamos sofrer muito se entendemos que o ponto vem para o bem. Se entendermos que é assim mesmo em toda parte: As pessoas chegam, e as frases começam com uma letra maiúscula, as pessoas nos conquistam, e depois do verbo a frase finalmente começa a ganhar sentido daí a gente se sente feliz por tê-las ao nosso lado e é exatamente nessa parte que as pessoas se vão e o ponto - aquele cruel e insensível - faz a sua arte mais uma vez. Canalha.

O ponto propõe o crescimento, o desapego. Simplifica e divide tudo igualmente sem complicar. Ele mata todas as reticências, noites reticentes e exclamações desenfreadas, mas um dia faz todo mundo entender que de um jeito ou de outro ele manda todo dia na vida da gente.

Tem gente que sabe ser ponto, eu ainda não sei. Me perco na beleza das reticências, na euforia da exclamação e na insegurança completa de uma interrogação! Toda reticência me faz cair nas possibilidades, e toda euforia me faz transcender onde piso, para depois voltar perguntar: Mas será que dá mesmo? Eu nunca sei. Todo o receio de uma vírgula encanta e todo novo parágrafo o pensamento afia mais, quer cortar as nossas mentes e deixar entrar tudo aquilo que se deixa pontuar. Eu ainda acho difícil deixar tudo pra trás, e botar um ponto sem reclamar um pouco. Acho ainda mais difícil botar agora uma vírgula pra dividir igualmente meu coração, botar algum limite - logo ele que sempre teve frieza e freios - e deixar-me ser fria e indiferente a tudo atrás de mim. Acho quase impossível, deixar de lado tudo que conquistei nos meus conjuntos de parágrafos que formam textos. Toda sensibilidade que me liberta e aprisiona inevitavelmente a troco de um único fim.

O problema é que eu quero sempre mais de tudo do que O tudo pode me oferecer e não termino jamais. Minhas frases são infinitas e cada uma necessita de uma explicação, sempre foi. Meu coração é transparente, sonhador e tem até asas, apesar de não ser resistente a quase nada. Apesar de ter sido resistente a quase tudo! Eu literalmente NÃO SEI e me recuso permanentemente a desistir. Me recuso a ser forte o suficiente pra dizer que é o final daquilo que eu não quero que seja finito. Não quero nenhum ponto que me limite, que me sufoque! Eu quero ter o direito, e aproveitar o direito de não saber o que dizer... De não saber o que sentir! Ou de simplesmente não saber. Ser um pouco frágil e bagunçar um pouco dentro de mim, pra só arrumar quando eu precisar. Quando eu quiser.

E que hoje eu consiga parar pra pensar e decidir com que ponto estou, em que ponto estamos. Com que ponto vamos. Pra assumir por inteira, independente do ponto!

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