27 de abril de 2010

Sobre o homem branco:

"O mundo deles é quadrado, eles moram em casas que parecem caixas, trabalham dentro de outras caixas, e para irem de uma caixa à outra, entram em caixas que andam. Eles vêem tudo separado, porque são o Povo das Caixas...."
(frase de um pajé do povo Kaingang, recolhida por Lúcia Fernanda Kaingang)

"Você vai me dizer: o índio tá falando mas é selvagem; selvagem é vocês, milhares de anos estudando e nunca aprenderam a ser civilização. Pra que você está estudando? Pra destruir a Natureza e no fim destruir a própria vida?"
(José Luiz Xavante)

"Queremos que a floresta permaneça silenciosa, que o céu continue claro, que a escuridão da noite caia realmente e que se possam ver as estrelas. As terras dos brancos estão contaminadas, estão cobertas de uma fumaça-epidemia xawara que se estendeu muito alto no peito do céu. Essa fumaça se dirige para nós, mas ainda não chega lá, pois o espírito celeste Hutukarari a repele ainda, sem descanso. Acima de nossa floresta o céu ainda é claro, pois não faz muito tempo que os brancos se aproximaram de nós. Mas bem mais tarde, quando eu estiver morto, talvez essa fumaça aumente a ponto de estender a escuridão sobre a terra e de apagar o sol. Os brancos nunca pensam nessas coisas que os xamãs conhecem, é por isso que eles não têm medo. Seu pensamento está cheio de esquecimento. Eles continuam a fixá-lo sem descanso em suas mercadorias, como se fossem suas namoradas."
(Davi Yanomami ; pajé e líder do povo Yanomami)

"Não compreendemos porque uma filha dos Kaingang precisa estudar leis escritas e aprender saberes que não são nossos. O que você precisa saber que nossos velhos não podem lhe ensinar ? O que se pode aprender de um Povo que não respeita seus anciãos e abandona suas crianças ? Para que irá um Kaingang estudar leis feitas por estranhos, leis que eles mesmos não cumprem ? Não! Nunca compreenderemos que a lei não seja conhecida por todos, porque nossas leis não são escritas, mas são cumpridas porque são sagradas."
(frase de líderes do povo Kaingang registradas em 1995 por Lúcia Kaingang, advogada indígena, quando decidiu estudar Direito)

"... a preservação da cultura indígena, em vez de barrar o progresso, como dizem alguns caçadores de índio, estará salvando nosso país da destruição de muitos valores, provocada por essa selvagem civilização tecnocrata."
(Margarida Tapeba ; professora indígena do povo Tapeba.)

SOBRE O RESPEITO:

"Em vários grupos indígenas brasileiros se encontra a visão de que é preciso 'amansar o branco', fazê-lo ver que a vida não pode fundar-se na devastação."
(Washington Novaes; jornalista)

"...há também o grave problema do relacionamento entre os índio e o elemento humano vindo de fora, isto é, o civilizado. De que forma se poderia conciliar as duas sociedades ? Uma estável, ajustada ao meio, equilibrada, apoiada em padrões culturais bem definidos; e outra adventícia, desordenada, que chega para transformar florestas em pastagens e cujos membros não mantém entre si nenhum vínculo, exceto o mesmo e constante propósito de obter lucros."
(Orlando Villas-Bôas; sertanista)


sobre o povo Guarani: "Eles são muito mais abertos do que nós para aprender as coisas dos outros, eles dialogam com a gente. O dialogo intercultural não somos nós que fazemos, são eles. Quantos de nós falamos Guarani? E quantos deles sabem português? A maioria. Eles aprendem, mas também estão escolhendo não sair do modo de vida deles. É uma escolha positiva, não é porque não saibam sair, é que não querem sair. Estes povos são exemplos pra nós de dialogo intercultural, que não e botar água no vinho e fazer uma coisa que não é nem água nem vinho. Diálogo cultural é beber água e beber vinho."
(Bartolomeu Meliá ; jesuíta)

Sobre o índio,
A COBIÇA:

"É hora de acabar com esses parasitas, uma vergonha. É hora de acabar com eles; é a hora de eliminar estas pestes. Vamos liquidar estes vagabundos."
(Antônio Mascarenhas; seringalista que participou do ataque aos índios Cinta-Larga
de Rondônia, conhecido como o "Massacre do Paralelo 11", em 1963)

"As terras já demarcadas são mais que suficientes às necessidades dessa espécie de gente, que quase nada produz."
(Oscar Castelo Branco; madereiro que comandou um ataque aos índios Tikuna do Amazonas, onde morreram 14 índios - publicado na Folha de São Paulo em abril/88)

"(...) se devia levar-lhes a varíola para acabar com eles de uma só vez, porquê a varíola é a doença mais terrível para essa gente."
(comandante do quartel de Santana dos Ferros, na Bahia, início do século XIX)

"(...) acordados a tiros e a facão nem procuram defender-se e toda heroicidade dos assaltantes consiste em cortar a carne inerme de homens acobardados pela surpresa. Depois de batidos dividem-se os despojos que são vendidos a quem mais der, entre eles troféus do combate e as crianças apresadas"
(Eduardo Hoernham; inspetor do Serviço de Proteção ao Índio, relatando o procedimento dos bugreiros, caçadores de índios contratados pelo governo de Santa Catarina para "limpar" as regiões destinadas aos assentamentos para colonos
europeus no início do século XX, 1912)

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"Você vai me dizer: o índio tá falando mas é selvagem; selvagem é vocês, milhares de anos estudando e nunca aprenderam a ser civilização. Pra que você está estudando? Pra destruir a Natureza e no fim destruir a própria vida?"
(José Luiz Xavante)

19 de abril de 2010

Pontuando.

O ponto tem algo de definitivo, marcante e seguro que eu nunca consegui ter, sempre me ative a sentimentos menos nobres e mais sinceros, meios-pés que estão sempre pisando em algum cantinho de sala, mas não soleiras inteiras. O ponto também permite que nós saibamos que podemos desfrutar intensamente de cada verbo, palavra e letra desde que lembremos que o ponto também significa ter hora e lugar pra acabar. Desfrute até o ponto. E porque o fim tem sempre que parecer algo ruim? Tão ruim assim? Ele determina o final. Ponto. E não tem porque sempre ver o final como algo tão triste, mesmo que eu concorde que ficaria muito mais bonito de lembrar se soubéssemos exatamente onde tudo termina. Aquelas tristezas profundas dariam lugar a uma tranqüilidade exorbitante que a maturidade traz pra alguns. Saber onde termina. Sem passar pelo sofrimento de reler várias vezes um mesmo parágrafo, querendo enxergar toda a pontuação que ali existe, sem aceitar a pontuação que dão a ti próprio. Ponto final.

E o ponto não é só um sinal de pontuação, ele abre e encerra ciclos como quem brinca com um coração, uma mente e algumas palavras que a gente insiste em dizer só porque acha que a hora de ponto está chegando. Nada termina antes do fim, e a gente tem o hábito desagradável de sempre esquecer desses detalhes... Não precisamos sempre fazer dos pontos que a vida nos traz, um muro de chorumelas e pranto incansável. Não precisamos sofrer muito se entendemos que o ponto vem para o bem. Se entendermos que é assim mesmo em toda parte: As pessoas chegam, e as frases começam com uma letra maiúscula, as pessoas nos conquistam, e depois do verbo a frase finalmente começa a ganhar sentido daí a gente se sente feliz por tê-las ao nosso lado e é exatamente nessa parte que as pessoas se vão e o ponto - aquele cruel e insensível - faz a sua arte mais uma vez. Canalha.

O ponto propõe o crescimento, o desapego. Simplifica e divide tudo igualmente sem complicar. Ele mata todas as reticências, noites reticentes e exclamações desenfreadas, mas um dia faz todo mundo entender que de um jeito ou de outro ele manda todo dia na vida da gente.

Tem gente que sabe ser ponto, eu ainda não sei. Me perco na beleza das reticências, na euforia da exclamação e na insegurança completa de uma interrogação! Toda reticência me faz cair nas possibilidades, e toda euforia me faz transcender onde piso, para depois voltar perguntar: Mas será que dá mesmo? Eu nunca sei. Todo o receio de uma vírgula encanta e todo novo parágrafo o pensamento afia mais, quer cortar as nossas mentes e deixar entrar tudo aquilo que se deixa pontuar. Eu ainda acho difícil deixar tudo pra trás, e botar um ponto sem reclamar um pouco. Acho ainda mais difícil botar agora uma vírgula pra dividir igualmente meu coração, botar algum limite - logo ele que sempre teve frieza e freios - e deixar-me ser fria e indiferente a tudo atrás de mim. Acho quase impossível, deixar de lado tudo que conquistei nos meus conjuntos de parágrafos que formam textos. Toda sensibilidade que me liberta e aprisiona inevitavelmente a troco de um único fim.

O problema é que eu quero sempre mais de tudo do que O tudo pode me oferecer e não termino jamais. Minhas frases são infinitas e cada uma necessita de uma explicação, sempre foi. Meu coração é transparente, sonhador e tem até asas, apesar de não ser resistente a quase nada. Apesar de ter sido resistente a quase tudo! Eu literalmente NÃO SEI e me recuso permanentemente a desistir. Me recuso a ser forte o suficiente pra dizer que é o final daquilo que eu não quero que seja finito. Não quero nenhum ponto que me limite, que me sufoque! Eu quero ter o direito, e aproveitar o direito de não saber o que dizer... De não saber o que sentir! Ou de simplesmente não saber. Ser um pouco frágil e bagunçar um pouco dentro de mim, pra só arrumar quando eu precisar. Quando eu quiser.

E que hoje eu consiga parar pra pensar e decidir com que ponto estou, em que ponto estamos. Com que ponto vamos. Pra assumir por inteira, independente do ponto!

8 de abril de 2010

Senhor

Muita coisa muda ao longo do tempo, afinal "O tempo é senhor do tempo". Podemos medir ele das mais diferentes formas, mas a humanidade nunca conseguiu controlá-lo, ao máximo, prevê-lo. Se um dia chegarmos a esse ponto, bom, se sobreviveremos a esse ponto, muitas outras coisas serão possíveis que acredito que levaremos o mundo a um lugar bem melhor do que é hoje, gente evoluindo de forma mais completa, ao invés de crescendo parado no mesmo lugar.

Acredito que seres humanos são uma das coisas mais instáveis do planeta, são em geral estremamente receptivos a influências externas fortes. Pessoas instigam pessoas, pessoas chamam pessoas, pessoas culpam pessoas, pessoas prendem pessoas, pessoas amam pessoas. Pessoas são instigadas, chamadas, culpadas, presas e amadas. Mas porquê o crescimento ainda parece algo tão difícil? Porque deixar velhos hábitos do outro é tão penoso, quando é muito mais autentico criar seus próprios, quando é um tanto mais natural quando vem de dentro? Como dizia uma propaganda antiga de tv "Algumas pessoas crescem, outras evoluem". Algumas pessoas evoluem por meio outras, outras pessoas evoluem por si mesmas. Acho que o segredo é algo parecido com evoluir para os outros, mas em benefício próprio.

Tem gente que chama os outros na esperança de que não fique sozinho na sua (já antiga) linha e tem os que chamam os outros porque sabem vão ficar além sozinhos, erráticos. Há os que culpam os outros por não terem ainda capacidade de se olhar de frente e assumir seus erros - frente a quem se prejudicou, e principalmente frente a si mesmo como prejudicado. Tem gente que prende os outros por não se gostar e assim duvidar que o outro goste também, que prende pra deixar mais seguro e para preservar a vida do outro, para preservar a si mesmo de sofrimento. Só não vê que é morte lenta e decadente pra qual quer-se levar a humanidade, ninguém que preserva pássaros livres dentro de uma gaiola os têm por muito tempo, ou eles fogem, ou morrem. Pessoas são amadas, e tem tanto medo disso que arrajam desculpas pra não se entregar, e viver com a segurança instável que é amar, e pra não aprender a respirar por meio disso também. Pra não deixar o pássaro no ar consigo, pra voar sozinho e não ter que se preocupar com ninguém. Pra sofrer sozinho e não sentir culpa. Pra deixar só a parte bela fazer parte do todo. Pra amar sozinho e não sofrer o amar de alguém. Pra amar sozinho, e se deixar estar sozinho.

É o medo da responsabilidade, é o medo de ser responsável por tudo aquilo que acontece de bom, e de ruim. É quando ver evoluir, sorrir, e saber que só foi possível graças ao teu esforço, ao teu bem, ao teu amor, e amado. É quando ver ruir, ver tudo que tentou perder a base, e todo tempo que investiu, ver perdido.

Tempo não se perde, se ganha. Quando a gente diz que perde, a gente mostra que não aprendeu nada com o que se viveu. Todo mundo cai, de joelhos, de cabeça, de costas. Tem gente que cai de pé (sorte desses). Mas a gente só vai saber como se equilibrar, quando conhecermos o que queremos controlar por inteiro e tivermos caído uma vez pra saber como é. O tempo É senhor do tempo, mas nunca custa ficar de olho nele pra não perder o trem, e dizer que ele não passou na estação.

6 de abril de 2010

Ordem e progresso!

Desenhe a bandeira do Brasil:



Bem que sabe o desenhista.

5 de abril de 2010

Quando bate forte.

Quando a gente ama de verdade, não dá, a gente sempre sente aquele medo de perder o receptor do amor, a quem se ama. Sente tanta raiva quando briga, porque quando se está junto o melhor é aproveitar o amor, companheirismo, sinceridade e cumplicidade que existe a dois. E quando surge a oportunidade propícia para mostrar mais o que sentimos, aproveitamos, queremos mostrar que o amor que sentimos é o "maior do mundo" - ou pelo menos achamos que é o do nosso mundo.

Queremos sempre ajudar, e por vezes nesse intuito passamos do limite porque achamos ter condição de fazer a pessoa enxergar algo que vemos... Mas as vezes simplesmente não adianta, continuamos sendo seres humanos que não aprendem tanto com os erros dos outros, e sim com os próprios. Gostamos sim de receber flores, mas ainda mais de dar e ver aquele sorriso surpreso e feliz de quem amamos. De dar aquele abraço apertado e do sorriso sem jeito.

A dois as brigas vem... e vão embora. As vezes persistem, outras desistem, afinal... Cada caso é um caso. Não posso sair generalizando relacionamentos por aí, afinal se eu soubesse a solução de todos eu não estaria aqui. Eu estaria rica.

Mas acho que a DOIS, o que se gosta mesmo, é amar. Amar pode ser em silêncio, a gritos, em filmes calmos em camas quentes ou festas cheias de música e histórias pra contar. Amar vem devagar, antes de apressar o passo como quem vence uma corrida. Toca como um brisa leve, e pode causar estrago como a folha de caderno que corta o dedo. Ele constrói dinastias e tradições, e deixa todas de lado quando ama, as tradições não interessam e as dinastias vão superar. Amar é o que interessa. Ele destrói ditaduras e afoga algumas ditas 'civilizações' do mundo moderno, mulher em casa com a comida pronta, mulher não pode votar, mulher tem que criar os filhos em casa. O que não faz o amor... amor às nossas mulheres, amor aos filhos destas, amor à luta, amor à vitória! O amor acha mesmo civilizado, é amar.